Maestro Ricardo Rocha aponta caminhos para formação do regente contemporâneo

Fundador e diretor musical da Sociedade Musical Bachiana Brasileira, Orquestra e Coro, o maestro Ricardo Rocha realiza seminário para os alunos do Curso Online de Introdução à Regência, neste sábado (23), das 13h às 17h, pela plataforma Zoom 

 
O perfil do regente contemporâneo deve compreender um líder de orquestra ou conjunto musical capaz de criar pontes e comunicar-se com músicos de qualquer idade, língua, nível social e econômico, bandeiras políticas e religiosas, magnetizando, por autoridade pessoal, os músicos que dirige: esta é uma das lições que o maestro Ricardo Rocha pretende transmitir em sua aula-palestra para os alunos do Curso Online de Introdução à Regência, neste sábado (23), das 13h às 17h, pela plataforma Zoom. 

Com o tema “A Direção por Estruturas na Arte da Regência”, a atividade terá transmissão online para 330 alunos de 24 Estados brasileiros, selecionados em Edital lançado no site da Estação Conhecimento de Serra. Considerando-se os alunos de docentes matriculados, indiretamente a formação vai contemplar cerca de 6,5 mil estudantes em todo o Brasil.  

Iniciativa do Instituto Cultural Vale, o Curso Online de Introdução à Regência integra o Programa Vale Música e é destinado a estudantes de música, professores, músicos, regentes de bandas, orquestras, corais e grupos de jazz, entre outras formações musicais. Todas as atividades são desenvolvidas de forma remota, com a participação de regentes e musicistas de projeção internacional. A coordenação é do Projeto Vale Música Serra, com o patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério do Turismo. 

Fundador e diretor musical da Sociedade Musical Bachiana Brasileira, Orquestra e Coro desde 1986, Ricardo Rocha é atualmente um dos regentes mais respeitados do Brasil. Seu currículo inclui a atuação como regente convidado na Alemanha, onde criou e dirigiu por 11 anos (1989 a 2000) o ciclo “Brasilianische Musik im Konzert” para a difusão da música sinfônica brasileira, à frente de grandes orquestras como a Sinfônica de Bamberg; a Filarmônica da Turíngia; a Filarmônica de Südwestfallen e a Sinfônica de Baden-Baden. 

Na Argentina, foi regente residente por um mês para realização de três programas diferentes frente à Orquesta Sinfónica Nacional de Cuyo, em Mendoza. No Brasil, foi regente titular da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso (1992-94) e da Orquestra Sinfônica e Coro Estável da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (1994-96), onde também foi professor de Regência.  

Entre outras certificações, o maestro é pós-graduado pela Escola Superior de Música da Universidade de Karlsruhe como Kapellmeister (Maestro de ópera e concertos sinfônicos), o mais alto título em Regência em países de língua germânica; além de possuir o Mestrado e o Bacharelado em Regência pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No mercado editorial, publicou os livros “Regência, uma arte complexa” (2004) e o atlas “As Nove Sinfonias de Beethoven – uma Análise Estrutural” (2013), esta última o resultado de 26 anos de trabalho.  

Na entrevista a seguir, o maestro Ricardo Rocha fala sobre o conteúdo que irá apresentar em sua palestra no Curso Online de Introdução à Regência e sobre as qualidades essenciais para a formação de um regente contemporâneo. Destaca ainda a importância da atuação das empresas em projetos sociais voltados para a educação musical e elenca as principais atividades desenvolvidas pela Sociedade Musical Bachiana Brasileira, Orquestra e Coro, que foi tema do documentário “Vinte anos de um sonho em processo”, lançado em 2013.  

Na sua opinião, qual a importância da realização de um Curso de Introdução à Regência para a formação de novos regentes e para o desenvolvimento do setor musical? 

Pela complexidade de uma matéria como Regência, que demanda décadas de estudo e experiência prática, um curso de introdução ao seu universo deve cumprir o papel de uma apresentação, em forma de painel, dos aspectos mais importantes dessa arte tão extraordinária.   Colocando à parte os pré-requisitos teóricos que o estudante precisa saber para nela desenvolver-se plenamente, como Contraponto, Fuga, Harmonia e Orquestração, além de, na prática, tocar bem um instrumento (de preferência piano), e ter aprendido pelo menos o suficiente de um instrumento de cordas e outro de sopro, entendo que a importância da realização de um Curso de Introdução à Regência seja o de dar clareza ao seu postulante do que lhe será primordial dominar para o alcance da excelência em sua oficina artística. E, para tanto, elenco os sólidos fundamentos de uma técnica gestual precisa e eficiente, a capacidade de análise estrutural de qualquer obra, independente de sua linguagem, e, por fim, a capacidade de liderança e empatia na condução de seus músicos, não importando aqui a faixa etária e nível artístico dos mesmos. É a formação de regentes competentes e com a natural e legítima autoridade advinda daí que tornará possível o desenvolvimento contínuo e sustentado de qualquer setor musical. 

 

Sua palestra tem como tema “A Direção por Estruturas na Arte da Regência”. Em que consiste o conteúdo a ser apresentado? 

Em primeiro lugar, na capacidade de analisar a estrutura de qualquer obra musical, seja daquela escrita para instrumento solo até as grandes obras sinfônicas.  Isto se dá pelo aprendizado do mapeamento da obra do todo para a parte, identificando seus principais temas e as seções nas quais estão inseridos; em segundo, na percepção correta dos tempos verdadeiramente téticos de uma linha musical, os quais, em muitos casos, não estão na cabeça do compasso indicado pelo compositor.  Por fim, com o mapeamento de tais marcações é que o maestro encontrará as soluções de regência para cada obra ou movimento, a qual se dará, para além da mera condução, por meio da indução que o regente exercerá na direção musical de instrumentistas e cantores. Essa regência por estruturas é o “pulo do gato” na arte da Regência, o ‘turning point” que fará com que ele deixe de “taxear” para “decolar” na atividade. 

 

E de que forma pretende transmitir este conhecimento aos participantes do Curso?  

Através de uma oficina prática de análise estrutural do famoso primeiro movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven, seguido da identificação dos tempos téticos ao longo de todo o discurso musical e, por fim, a marcação, na própria partitura, das soluções de regência que deverão ser, então, estudadas com técnica fundamentada e aplicada àquela partitura. 

 

Qual deve ser o perfil do regente contemporâneo?  

Aquele capaz de conjugar as aptidões que caracterizam o regente atemporal com o regente de nossa contemporaneidade, ou seja, a vocação e as competências específicas dessa arte interpretativa, representando o conteúdo perene e atemporal da atividade em si, por sua vez adaptado aos códigos estéticos, estilísticos e éticos de nossa contemporaneidade, representando a forma, que é sempre cultural e temporal. 

Portanto, o seu perfil deve ser o do que leu sobre a atuação do primeiro bailarino grego da Antiguidade, que regia os seus músicos através de gesticulação e expressão corporal; do que aprendeu ouvindo e assistindo concertos, vídeos e documentários de grandes regentes sinfônicos do século passado; e também daquele que, regendo coros e/ou bandas, ainda teve a curiosidade e a possibilidade de assistir, por exemplo, a um regente de bateria de Escola de Samba, no Rio ou em São Paulo, para entender o que fazia o citado primeiro bailarino grego há mais de dois mil anos. Em outras palavras, seu perfil é o de quem deu forma atual a um conteúdo pré-existente.   

Assim, penso que o perfil do regente contemporâneo, num mundo que busca cada vez mais dissolver culturas regionais e autônomas num globalismo predatório de códigos culturais, é aquele que, despindo-se de códigos e costumes tribais e nacionais em seu corpo, gestos e vestimenta, é capaz de criar pontes e comunicar-se com músicos de qualquer idade, língua, nível social e econômico, bandeiras políticas e religiosas, magnetizando, por autoridade pessoal, os músicos que dirige. 

 
Como conciliar a liderança de orquestras e conjuntos em seu aspecto técnico-musical com a gestão de pessoas e a organização administrativa? 

 Só regentes de pequenas instituições arcam com ambas as lideranças, uma vez que isso não é possível à frente de grandes conjuntos.  Grosso modo, a divisão de cargos, funções e atribuições hierarquizadas, numa cultura meritocrática, é o que funciona, desde que haja transparência e o cultivo de sólidos valores como lealdade, cumprimento com a palavra dada (honradez no compromisso que se assume) e confiança mútua. Atitudes e exemplos devem vir sempre de cima. 

No caso da gestão das pessoas, o reconhecimento e eventuais recompensas públicas, materiais ou imateriais, como um elogio ou um gesto sincero e honesto para alguém na frente de todos, assim como a entrega de uma importante tarefa outorgada a quem de direito, dispara um senso de responsabilidade naquele que a recebe, capaz de fazer com que este reúna todas as suas potências e habilidades, com grande sentimento de superação, para, na realização da “missão” dada, mostrar que é digno de confiança para futuras realizações. Isso vale para a criação de monitorias de naipes, revezamento de spalle e outros. 

No caso da organização administrativa, isso vai depender se o regente acumula ou não o cargo de diretor artístico, assim como quem possui mais peso, nome e experiência: se o diretor musical, o artístico ou o administrativo, mesmo no caso de haver um presidente. 

 

Como o Sr. vê a atuação de empresas em projetos sociais voltados para a educação musical e o acesso de crianças e adolescentes aos bens culturais? 

Vejo com o melhor dos olhos, pois que a iniciativa privada, com ou sem uso de leis de incentivo, precisa envolver-se e investir no meio onde produz, porque é isso que a fará crescer e ser respeitada, a começar pelos seus próprios funcionários, cujos filhos poderão usufruir do acesso aos bens culturais oferecidos pela atuação de empresários. Isso dignifica o funcionário, a empresa e suas lideranças. Só que melhor ainda é quando este acesso é dado não apenas aos filhos de seus funcionários, mas a todos do entorno da região, estado ou país, em atuação “solo” ou em parcerias público-privadas. 

E por uma questão de eficiência, consequência e qualidade nos resultados, importa que as atividades sejam sempre íntegras e não híbridas, ou seja, se o investimento for na educação musical, que seja na bandinha e no coro para crianças; depois na pequena orquestra e finalmente em uma orquestra de jovens vindos dessa base, sempre por seleção baseada no mérito, no talento e nos resultados apresentados.   

Ou então parte-se para a montagem direta de uma Orquestra Jovem, em nível municipal, estadual ou federal, com idade mínima para entrada e máxima de permanência, a qual irá sendo alimentada pelas categorias de base.  Essa estrutura também serve para a dança, teatro e outras expressões artísticas.  O que não funciona é o hibridismo de uma atividade multifacetada: “Artes”, onde a criança canta, dança, toca, representa, pinta e escreve. Salvo exceções, que não constituem a regra, talentos e habilidades não costumam ser multifacetados. É o foco, e não a distração, que será capaz de revelar e estimular o desenvolvimento de potências e talentos ainda não descobertos.  

 

O Sr. é fundador e diretor musical da Sociedade Musical Bachiana Brasileira, Orquestra e Coro. Quais são as atividades desenvolvidas pela entidade?  

A Sociedade Musical Bachiana Brasileira – SMBB – é uma associação civil, de caráter privado, sem fins lucrativos, tornada Bem de Utilidade Pública Federal através do Processo 08000- 019379/99-00 de 4/4/2000 do Ministério da Justiça. Seu objetivo é a produção e a realização de atividades de música clássica, tais como: concertos, recitais, óperas, musicais, gravações, festivais, cursos de extensão, assim como seminários de música, aulas e atividades similares, realizados com alto padrão de qualidade e profissionalismo, nos quais todos os recursos auferidos são reinvestidos em prol de novos eventos musicais e de seu próprio desenvolvimento e expansão. 

Criada em 1986, a SMBB nasceu com o objetivo de difundir a música de Johann Sebastian Bach e a de compositores brasileiros, tendo sido registrada no dia 10 de outubro de 1993. Foi Villa-Lobos quem primeiro percebeu a profunda ligação entre a pulsão da música de Bach e a da nossa “Terra Brasilis”. Desta percepção, deixou-nos um legado genial na forma da conhecida série Bachianas Brasileiras, na qual, em nove obras com distintas formações, nos oferece a alma de nosso povo vestida em corpo bachiano. Assim como a música do povo brasileiro encontra profunda afinidade com a música de Bach, brilhantemente sintetizada por Villa-Lobos nesta série, também os fundadores da SMBB têm grande afinidade com a música de Villa-Lobos e a música do mestre alemão. Daí, a inspiração para o nome da entidade. 

O alto padrão de qualidade com que executa do colonial brasileiro e barroco europeu à música contemporânea explica a posição ímpar que a Cia. Bachiana Brasileira ocupa hoje no cenário musical brasileiro, como atestam o recebimento do 1º Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e o jornal O Globo, que apontou os concertos da Cia. Bachiana Brasileira entre os 10 melhores de cada ano em 2007, 2008 e 2011. 

   

SOBRE O INSTITUTO CULTURAL VALE: 

O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. Em 2021, são mais de 150 projetos criados, apoiados ou patrocinados em 24 estados e no Distrito Federal. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Visite o site do Instituto Cultural Vale para saber mais sobre sua atuação:  

www.institutoculturalvale.org  

 

SOBRE O PROGRAMA VALE MÚSICA: 

Desde o início dos anos 2000 a Vale cria oportunidades para estudantes participarem de formações musicais e desenvolverem seus talentos nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e Mato Grosso do Sul. Em 2019, a empresa criou o Programa Vale Música, uma rede colaborativa de ensino e aprendizagem composta pelos projetos musicais dos quatro estados e as maiores orquestras do país. Ao todo, a rede envolve mais de 240 profissionais e mais de 1.000 estudantes. São parceiras do Programa Vale Música a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Ouro Preto, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, a Nova Orquestra e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, patrocinadas pelo Instituto Cultural Vale por meio da Lei de Incentivo à Cultura. 

 

SOBRE O PROJETO VALE MÚSICA SERRA:   

Iniciativa do Instituto Cultural Vale, o Projeto Vale Música Serra atende 200 alunos, de 07 a 29 anos, na Estação Conhecimento de Serra, em Cidade Continental, e 70 alunos, de 07 a 11 anos, no Núcleo do Vale Música no Parque Botânico Vale, em Vitória. O projeto conta com diversos grupos artísticos como a Orquestra Jovem Vale Música, a Camerata Jovem Vale Música, a Vale Música Jazz Band, a Banda Sinfônica Vale Música, o Coral Infantil Vale Música e o Coral Jovem Vale Música, que se apresentam em eventos na Grande Vitória e demais regiões do país. Durante o período da pandemia do novo coronavírus todas as atividades estão sendo desenvolvidas de forma remota. 

 

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