Alunos da Banda Sinfônica apresentam seminário sobre contribuição de músicos negros para a sociedade

As atividades contaram com a participação de três grupos de alunos do Projeto Vale Música Serra, sob a orientação do maestro Eduardo Lucas; as turmas debateram temas como racismo, desigualdade social e o apagamento do protagonismo dos negros na música brasileira

Introduzir os alunos no debate sobre a contribuição da população negra para a construção da estética musical brasileira e discutir os meios de apagamento do protagonismo dos artistas negros na sociedade: esta foi a proposta do Ciclo de Seminários da Banda Sinfônica Vale Música, realizado nos meses de abril e maio, de forma remota, sob a orientação do maestro Eduardo Lucas.

As atividades contaram com a participação de 20 alunos do Projeto Vale Música Serra, que foram divididos em três grupos com temáticas específicas: A história social da música popular brasileira: expropriação e desigualdades; Epistemicídio: as estratégias sociais de apagamento das contribuições dos negros na música brasileira; e Políticas de ações afirmativas Brasil: “Cota não é esmola”. A partir das referências bibliográficas encaminhadas pelo professor, os alunos desenvolveram suas pesquisas individualmente, para em seguida apresentar os resultados dos estudos em ciclos de seminários com três horas de duração.

Para o maestro Eduardo Lucas, idealizador do seminário, a iniciativa visa levar os alunos a refletir sobre o papel da música na construção social e a compreender o contexto histórico que provocou o obscurecimento dos músicos negros em diferentes movimentos da MPB. “Quando falamos sobre o samba e a bossa nova, por exemplo, não há como ignorar que os negros que contribuíram para esses movimentos musicais foram apagados da história, em função daquilo que chamamos de epistemicídio”, observa o maestro.

Ele cita Johnny Alf, Wilson Simonal e Pixinguinha como vítimas do racismo estrutural presente na sociedade brasileira. “Johnny Alf é um nome importantíssimo para a música brasileira, mas o fato dele ser negro e homossexual acaba impedindo o reconhecimento de sua obra. Wilson Simonal enfrentou preconceito por ser negro, e Pixinguinha foi obrigado a entrar na porta dos fundos do Copacabana Palace, no dia da apresentação dos Oito Batutas, após o retorno de uma turnê triunfal na França, na década de 1920, em função de um episódio histórico de racismo estrutural. Esse fato que ele chamou de lamentável, inclusive, o inspirou a compor o lindo choro ‘Lamento’, que mais tarde recebeu letra de Vinicius de Moraes”, exemplifica.

Alunos

Entre os alunos a receptividade aos seminários foi positiva. Julio Cesar de Oliveira Nascimento, que toca saxofone alto na Banda Sinfônica Vale Música, aprovou o conteúdo apresentado. “Esta iniciativa serviu para abrir a minha mente, porque tive acesso a questões que eu não tinha conhecimento. O tema do meu grupo foi epistemicídio, sobre o qual eu não tinha nenhum embasamento. Com certeza mudou minha forma de pensar”, revela.

Aluna de saxofone da Banda Sinfônica Vale Música, Thaynna Eustachio concorda com o colega. Para ela, a iniciativa de implantação dos seminários no Projeto Vale Música Serra terá grande importância para a construção acadêmica dos alunos: “Em especial a mim gerou um contato para além das métricas musicais, instigando uma sensibilidade que julgo essencial para um músico. Acredito que são pautas e seminários como esses que ainda vão transformar de forma significativa a sociedade, afinal nós, músicos, somos agentes transformadores através da nossa arte”, afirma a jovem.

Bibliografia

Entre a bibliografia recomendada para os seminários estão os livros do historiador José Ramos Tinhorão, que construiu verdadeiros manifestos contra a hegemonia da Bossa Nova e da “moderna” MPB (hegemonia consolidada em torno dos programas de televisão) na nova audiência musical das grandes cidades brasileiras. Tinhorão defende a tese da expropriação da música popular pela classe média, cuja consequência inevitável foi a perda de referenciais de origem. O maestro Eduardo Lucas observa que o seminário não objetiva fechar questão sobre os temas propostos. “A ideia é que os alunos construam a argumentação com um olhar para o contraditório, pois é justamente na divergência que encontramos o saber”, comenta.

Diante do retorno positivo dos alunos, o professor pretende dar continuidade à iniciativa dentro da programação pedagógica do Projeto Vale Música Serra. “Nos próximos seminários a pesquisa será mais aprofundada, com a proposição de leituras de Sérgio Cabral, José Ramos Tinhorão, obras de Marx, Hegel e Adorno, para que os alunos desenvolvam um olhar mais etnográfico sobre a cultura, e o próprio Paulo Freire, considerado o patrono da educação brasileira. Também pretendemos trazer autores negros para esse debate, como Abdias do Nascimento, Joel Rufino e Djamila Ribeiro, autora do ‘Pequeno Manual Antirracista’” adianta.

 

  • Contatos

Assessoria de Imprensa Vale
Elaine Vieira
(27) 3333-3633/(27) 99279-1039
Av. Dante Michelini, 5500, Camburi 29.090-900 – Vitória, ES
www.vale.com/saladeimprensa
www.vale.com/newsroom

Assessoria de Imprensa Estação Conhecimento de Serra
José Roberto Santos Neves
(27) 99972-8028
[email protected]
[email protected]